sexta-feira, junho 24, 2005

Relambanças
Não, não e não. Eu não fiz merda, como podem pensar as assustadas leitoras de plantão. Continuo aposentado, feliz e tranquilamente, ao lado de patroa.]
Cuma? Aposentado?
Sim, minha cara leitora desavisada q acaba de entrar no boteco sem conhecer a prévia fama dessa casa q outrora já foi de nível não lá muito dos apresentáveis.
Mesmo o distinto proprietário desse honorável pardieiro sendo, realmente, gordo, feio e cachaceiro, já andou acumulando algumas peripécias nesse mundão de meu Deus, que lhe valeram, entre um círculo restrito de amigos - os q nem sempre sabem de tudo, mas que lhe imaginam (e presenciaram) os feitos - o singelo apelido de Master (da putaria, é claro, mas não vamos falar essa palavra feia em respeito à distinta senhorita desavisada q veio, sem muita noção do q a esperava, dar as caras (e outras partes menos visíveis, mas sempre observadas) nesse humilde antro de vício, decadência e (tentativa de) humor. Mas onde estávamos mesmo? Ahhh sim, obrigado vc aí do fundão q me lembrou. Estávamos sobre minha aposentadoria... sim, sim, sim... minha aposentadoria.
Acontece q, como já dizia Chico Buarque, chega um momento q o malandro aposenta a navalha e arruma filho e tralha e tal. Filho e tralhetal num arrumei ainda, mas a navalha, no caso - minhas desventuras amorosas (e nem tão amorosas assim)- já foi pra escanteio e patroa comanda, solene, os rumos desse nobre aposentado, tanto q, como bom aposentado, vim pra detrás desse balcão encardido, aqui pelo menos observo o mundo sob outras luzes e sempre posso contar algum causo do passado ou do presente pr'algum desavisado q coloque os cotovelos no mármore seboso dessa espelunca.

E como hoje é sexta, na Eletrola do Boteco
NO BOJO DA MACAÍBA
Mestre Ambrósio

Eu ouvi o eco
No bojo da Macaíba
Ah, não ouve quem não quer...
Tem urubu na Embaúba

Foi Gonçalo- Alves
Um guerreiro forte
Tombou para o norte
Gemendo nos ares
Mergulhou nos mares
Da mata acuada
Teve por espada
Dureza do lenho:
Instinto ferrenho
Seiva derramada

Vi bem infincado
Pau-Ferro, Upeúna
Vi Sibipiruna
Jucá, Pau- Pintado
O chão sombreado
Que o céu não se via
Da noite pro dia
Tem festa animada
Madeira calada
Machado assovia

Madeira encorpada
Os galhos dançavam
Flores decoravam
A mata encantada
Onde a bicharada
Já fez carnaval
Velho vegetal
Na fogueira assa
Só brota fumaça
Na ponta do pau

Cedro, Jatobá
Braúna, Jacu
Ipê, Cumaru
E o Mata- matá
O Jacarandá
Que jamais empena
Acompanho a cena
Da porta da casa
De madeira a brasa
Distância pequena

Frei Jorge foi santo
De vida modesta
Pregou na floresta
De flores o manto
Sentiu com espanto
Cortarem seu pé
Apesar da fé
Que a alma renova
O machado prova
Mais forte quem é

Seja Acajaíba
Leiteiro ou Peroba
Pau- quina, Andiroba
Quirí, Macaíba
Oiti, Pindaíba
Umbu, Casca D’ Anta
Já não adianta
Se para o chão vai
Gigante que cai
Não mais se levanta

Nenhum comentário: